Trilostano Manipulado x Vetoryl®
Não é incomum recebermos no consultório endocrinológico cães que estão ou estiveram em tratamento para o Hiperadrenocorticismo com o trilostano manipulado; em geral estes chegam ao consultório devido ao mau controle das manifestações clínicas da doença. Ao mudarmos o tratamento para o Vetoryl® (cujo princípio ativo também é o trilostano) não só conseguimos um melhor controle, como, muitas vezes, reduzimos substancialmente a dose administrada.
Recentemente recebi uma paciente que estava em tratamento com o produto manipulado, recebendo a dose de 10mg/kg/dia, com permanência de manifestações clínicas e Cortisol pós-ACTH ainda bastante alto. Iniciei o tratamento com o Vetoryl®: atualmente a paciente apresenta um ótimo controle, remissão das manifestações clínicas e está recebendo a dose de 2mg/kg/dia!
Em pesquisa realizada nos EUA, acerca do produto manipulado em comparação Vetoryl® (Pharmaceutical Evaluation of Compounded Trilostane Products, 2012. DOI 10.5326/JAAHA-MS-5763), verificou-se diversas diferenças e irregularidades entre os compostos. A seguir, fiz um breve resumo dos achados desta pesquisa:
AVALIAÇÃO FARMACÊUTICA DE TRILOSTANO MANIPULADO EM RELAÇÃO AO LICENCIADO (VETORYL)*
Cápsulas de trilostano manipulado (15 mg, 45 mg ou 100 mg) foram adquiridas em oito farmácias de manipulação e analisadas em relação ao conteúdo e solubilidade. O produto original (Vetoryl®), cápsulas remanipuladas a partir do produto original e cápsulas com material inerte serviram como controles. Resultados foram comparados com a regulamentação e especificações para o produto licenciado (Vetoryl®). Ao todo, 96 lotes de trilostano manipulado e 16 lotes do produto controle passaram por análise.
No total, 38% dos lotes do produto manipulado ficaram abaixo dos critérios de controle de qualidade do conteúdo. A indicação no rótulo sobre a percentagem média do princípio ativo para cada lote do trilostano manipulado variou de 39% a 152,6% enquanto o produto original (e o remanipulado a partir do original) variou de 96,1 a 99,6% (média de 97,7%).
Todos os lotes do produto original (e o remanipulado a partir do original) excederam os critérios de aceitação para a solubilidade, mas 20% dos lotes do produto manipulado falharam em atingir estes critérios. Ou seja, a solubilidade do produto manipulado foi inferior à do produto original (e do remanipulado a partir do original).
Estes resultados da análise indicam que o trilostano manipulado pode variar na potência prescrita e suas características de solubilidade podem não coincidir com o produto original licenciado (Vetoryl®). O uso do produto manipulado, portanto, pode afetar negativamente o tratamento do hiperadrenocorticismo em cães.
O efeito de trilostano na síntese adrenal de cortisol é dependente da dose ativa do produto, portanto a consistência na dosagem é de suma importância. Ajustes de dose são normalmente feitos com base na resolução dos sinais clínicos e nos resultados do teste de estimulação por ACTH. A variabilidade de lote para lote do trilostano manipulado pode dificultar a individualização da dose. Overdose acidental pode resultar em hipocortisolemia e desbalanço eletrolítico, ambos com impacto negativo sobre o bem-estar do paciente, podendo exigir intervenção médica. Além disto, a administração inadequada de trilostano resulta em sinais persistentes de hiperadrenocorticismo e fracasso aparente do tratamento. Pacientes tratados inadequadamente permanecem vulneráveis às complicações do excesso de cortisol, incluindo infecção, tromboembolismo, e fraqueza progressiva.
Conclusão
A remanipulação do produto licenciado (Vetoryl®) por farmacêutico treinado não afeta a solubilidade e as características do produto, permitindo o alcance da dose alvo ideal.
O trilostano manipulado avaliado por este estudo não conseguiu atender os critérios de efetividade e de solubilidade. Com base nestes dados o produto manipulado requer cautela, pois seu uso pode comprometer o controle dos cães com HAC e ter um impacto negativo na saúde do paciente.
* Pharmaceutical Evaluation of Compounded Trilostane Products
Audrey K. Cook, BVM&S, Cornelia D. Nieuwoudt, PharmD, Susan L. Longhofer, MS, DVM
Journal of the American Animal Hospital Association, 2012. DOI 10.5326/JAAHA-MS-5763
link para o artigo original: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22611212